Stop-motion, time-lapse e hyper-lapse.

Diferenças entre as técnicas, considerações gerais sobre animações com fotos e porque me apaixonei por este mundo.

A criação de imagens em movimento utilizando-se câmeras fotográficas se popularizou bastante desde o início da revolução digital.
Os preços acessíveis de câmeras fotográficas, de vídeo e computadores pessoais possibilitou maior liberdade de criação e democratização da comunicação visual.

A minha área de interesse é a de animação com fotografias. Em 1995, quando estudava Cinema e Vídeo na ECA-USP, resolvi criar um curta-metragem inteiramente feito com fotos, chamado Jugular, e que ficou pronto em 1997.

Ao invés de filmar a ação, convidei meu amigo Maurício Simonetti para fotografar as cenas do filme. Os atores convidados foram Rosana Martinelli e Fernando Alves Pinto. Foi uma aventura prazerosa e gratificante, cujo resultado me trouxe projeção e visibilidade em festivais nacionais e internacionais de cinema. Graças a esse filme, eu pude fazer minha primeira viagem à Europa, quando conheci a Alemanha e fiz novos amigos.

Cenas do curta Jugular, de 1997

Em 1995 ainda não tínhamos muitos equipamentos digitais. Tudo foi feito com película, à moda antiga. Minha amiga e colega de faculdade, Malu Dias Marques, pilotou uma máquina chamada table-top, uma espécie de câmera de cinema adaptada sobre um eixo vertical, com sua lente perpendicular à uma mesa que pode se mexer, com ajustes milimétricos, em todas as direções. E assim, fizemos o filme, quadro a quadro, num exercício de paciência e persistência. O curta foi montado em uma moviola, pela minha amiga Gabriela Cunha.

O sucesso desta experiência e a quase que imediata subsequente revolução digital me despertaram para aquela que seria a atividade profissional pela qual sou apaixonada: a animação com fotografias e suas variadas técnicas.

A novidade me abriu para um universo enorme de experimentações. Eu aprendi a utilizar os softwares After effects e Premiere da Adobe, e a curiosidade daquele mundo de possibilidades me parecia infinito, estimulante e promissor.

Passei a viajar para me inspirar, conhecer pessoas e outras culturas, na tentativa de ser uma artista original. Passei a observar o mundo tentando transformar minhas percepções em experimentos visuais.

Irei falar um pouco sobre as diferentes técnicas e denominações do universo abrangente da animação com fotos na criação dos chamados FotoFilmes.

Stop Motion
A Malu Dias Marques, que animou meu primeiro curta, é uma artista especializada em stop-motion. O Jugular é um exemplo de stop-motion, pois antes de cada imagem ser capturada pela câmera do table-top, precisávamos fazer os ajustes de posição das fotografias, afim de criar o movimento.
Nesta categoria de animação com fotos, cada novo fotograma só é executado após que ajustes no cenário sejam feitos.
Como exemplo prático, imagine uma animação com personagens de massinha: Antes que cada foto seja tirada, o movimento do boneco é minuciosamente ajustado. Isso pode levar minutos ou horas. A imagem só será capturada quando o cenário e o boneco estiverem prontos. E esse tempo irá variar de acordo com a complexidade do movimento a ser criado.

Time-lapse
Logo após começar a dominar o universo da imagem digital, eu percebi o potencial comercial oferecido pela técnica do timelapse, por se tratar de uma forma de compactar memórias de eventos de longa duração, como obras de engenharia, obras marítimas, portuárias, ou empreendimentos de valor histórico. Eu estava presente, documentando com esta técnica, algumas das obras mais significativas do início deste milênio. O Terminal Flexível de GNL, que ficou pronto em 2008, é um exemplo marcante em minha história.


Sou muito agradecida aos engenheiros Mário Dantas, Luciana Parente e Fábio Meirelles, que acreditaram na minha palavra, quando eu disse que iria criar um espetáculo visual e deixar a execução desta obra registrada na história.
O terminal foi construído com o máximo de tecnologia e eficiência, com inovações da engenharia desenvolvidas pela Carioca Christiani-Nielsen, como o sistema de posicionamento das estacas por GPS, o que possibilitou o trabalho no meio da Baía da Guanabara durante a noite.

O Terminal foi finalizado em tempo recorde e é um dos marcos da história da autossuficiência energética do país. Eu tenho orgulho de ter estado lá, e de ter sido reconhecida por estes engenheiros como uma cineasta inovadora, que também seria de fundamental importância para aquela empreitada.
Meu trabalho consistiu em instalar algumas câmeras no canteiro, no terminal, e inclusive numa minúscula ilha na Baía da Guanabara, onde eu tive uma torre construída com exclusividade para meu uso.

O Time-lapse foi feito com intervalos de 8 minutos entre as fotos, e alguns eventos foram registrados com intervalos de 1 minuto.
No timelapse, o intervalo de captação entre as imagens é fixo. Não há interferência do cineasta no cenário. Sua única intervenção é a determinação do posicionamento da câmera, do intervalo entre as fotos, e sua posterior edição. Os acontecimentos são registrados regularmente, e este ritmo fixo cria uma proporcionalidade na compressão do tempo. Por isso eu afirmo que o timelapse é a memória compacta de um evento.

HYPERLAPSE
Em 2005 eu estava trabalhando na produtora de um querido amigo, o Jodele Larcher. Ele foi convidado para desenvolver um projeto onde várias praias e pontos turísticos do Rio de Janeiro seriam transformados em video clipes. Ele me convidou para fazer um sobre o Arpoador, cuja música havia sido feita pelo Marcelinho da Lua. Ele me mostrou uma referência do que viria a ser chamado de Hyperlapse. E então fomos ao trabalho!
Ele produziu toda infra-estrutura para que fôssemos criar este vídeo.
Eu caminhai do Cesar Park até a pedra do Arpoador. À medida em que ia andando, tirava fotos regularmente, com a câmera na mão.
Numa segunda sessão, tivemos a atriz Carla Peçanha, e seguimos pelo mesmo trajeto de antes.
Depois de todas essas imagens, eu precisei estabilizar o movimento frame a frame, uma vez que obviamente a câmera variava de nível, inclinação, etc. Poucas vezes na vida tive tanto trabalho braçal para criar um filme.
Eu criei sobreposições entre os dois dias, o que deu uma atmosfera nostálgica e onírica ao material. Tive um cuidado especial com as cores, para que ficassem hiper-realistas, e principalmente, bonitas.
Dessa forma surgiu meu curta Arpoador.

Com ele, dividi o prêmio de Destaque do Júri no Festival de Cinema de Gramado de 2005 com o Esmir Filho, que exibiu seu curta Tapa na pantera. Cada um levou um lindo troféu para casa, o Galgo Alado de Ouro.
O Hyperlapse se chama assim porque ele acrescenta uma nova dimensão ao timelapse, que é a dimensão espacial. Pois na mesma medida em que se registra e condensa o passar do tempo, o mesmo acontece com o espaço, uma vez que a câmera está em movimento. O prefixo HYPER existe exatamente pela dimensão extra. O Hyper diz respeito ao espaço e ao tempo.

Até breve!

Fernanda Ramos, 2020, São Paulo




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